quinta-feira, maio 19, 2005

Lúcia Piçalho encena Beijo de Judas

O Beijo de Judas é a mais recente encenação da artizzzta Lúcia Piçalho. A super-estrela das artes cénicas nacionais e a responável pelo maior número de turistas intergalácticos (pensavam que era por causa do combustível G-Force da CALPE, não era? Pois, como todos nós foram enganados pela publicidade), volta a cena com uma super produção minimalista que se desenvolve em três actos (como outras formas de arte, as quais implicam a posição de sentado do actor e a presença de um receptáculo em louça de Sacavém).
O enredo é muito simples, reduzindo ao mínimo toda a envolvente cénica, adereços, figurantes, personagens. Ar-minto da Bosta Gámei-o e o seu amado (sim Gámei-o é maricas - no fundo, Piçalho procura aqui invocar e explorar as dificuldades que a diferença, incluíndo na expressão artística e dramática, continuam a impor constrangimentos e a condicionar milhares e milhares de invertidos de toda a espécie - como aliás gosta de frisar em relação à sua arte), após uma violenta discussão a qual envolve quilómetros e quilómetros de argumentos de parte a parte (quantos não são os casais com problemas de compatibilização conjugal - outro dos temas recorrentes na obra de Piçalho), superam as diferenças e, aparentemente, selam o acordo, não com o cachimbo da paz, antes sim, com o másculo e imaculado Beijo de Judas.
Todavia, tratava-se efectivamente de um Beijo de Judas sem qualquer concretização dos seus efeitos mais carnais pois, o sagrado gesto haveria de ser abruptamente profanado, uma vez que, de súbito, abrem-se as portas da sala de espectáculo, surgindo a PIDE e censurando as cenas mais subversivas, enquanto que, a encenadora Piçalho, arrastada pelos cabelos, grita para o público impropérios, incrédula de o mesmo rir enquanto se está a falar de coisas tão sérias quanto a censura.
Por fim, quando já não se percebe nada e após nada menos que duas horas de espectáculo nihilista, já depois da encenadora completamente entediada ter dormido pelo menos três vezes no seu próprio espectáculo, é colocada uma das famosas latas de Piero Manzoni no centro do palco.
O público é então convidado para comungar/partilhar daquele momento especial em que, recorrendo a tão insuspeita obra de arte se presta tributo à peça que havia sido representada, dançando-se ao redor de tão venerável dejecto. Os críticos celebram efusivamente mais uma obra genial da artizzzta, verdadeira seguidora das melhores tendências de Bob Miller, enquanto o público português, pouco instruído, como é aliás do domínio comum, teima em afimar que o espectáculo não presta e que Piçalho, faria melhor se desse uso ao seu apelido, ao invés de andar a contribuir com espectáculos deprimentes para o agudizar do défice público.